Vida e obra de Bocage são feitos de violenta contradição na transição entre dois universos, um ainda ligado ao pensamento, gosto e sensibilidade neoclássicos e outro anunciador da era romântica, contradição que um agudo sentimento da personalidade acentua. (...) Pressente-se na sua obra um momento romântico que o tempo que o coube viver não permitiu ainda concretizar plenamente. A sua poesia de sátira social, já atravessada por forte realismo crítico, tem dupla vertente - séria e burlesca - ditada pela filosofia racionalista de setecentista esclarecido, livre-pensador inconformado com a intolerância e o fanatismo, por um lado, e pela sensibilidade pré-romântica, de sujeito singular em conflito com o mundo, por outro. (...)
O amor é pressentido em sua poesia como fatalidade, mau destino e vivido em termos dicotómicos de amor puro, ascensão e amor vicioso, degradante, conduzindo ao conflito entre dever e desejo, em que frequentemente o "sórdido prazer" sai vencedor.
Autor: MANUEL JOÃO VIEIRA